segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MEMORIAL

MEMORIAL

Lembro-me que o primeiro contato que tive com livros foi maravilhoso. Não sabia ler ainda, mas achei aquilo tudo muito lindo: o livro do Bambi e do Pinóquio. Ganhei de presente de uma tia emprestada. Até então, não tinha tido grandes contatos com livros e nenhuma outra espécie de leitura. Não lembro de minha mãe contando histórias para mim. Acho que por eu não ter tido maiores contatos antes com a leitura, fiquei muito encantada. E foi bem na época que eu estava entrando na primeira série. O descobrir das letras e da leitura foi emocionante. A professora era excelente. Entrei para a escola em março e no mês de maio já sabia ler. Além de ser alfabetizada pela forma tradicional, ou seja, aprendendo as vogais, depois as consoantes e tentando formar sílabas e até palavras, a professora trazia histórias, encenava com bichinhos. Cada dia era diferente e cada vez melhor. Era um mundo novo e fascinante na minha vida.
Porém, em final de maio, daquele mesmo ano, tivemos que nos mudar de cidade e ocorreu uma mudança brusca em minha vida. Mudou a cidade, mudou a escola e, principalmente, mudou a professora. Esta agora mais velha, carrancuda, rabugenta e arcaica. Como já sabia ler e entender o que lia, acredite você ou não, ela me deixava sem fazer nada em sala de aula, pois os outros meus colegas ainda não sabiam ler, e enquanto eles não soubessem, eu não poderia ir adiante. Não havia nada de inovador como contar histórias, mostrar bichinhos, ou cantar. Era só cópia de alguma coisa que colocava no quadro. Eu detestava. No segundo ano, não foi muito diferente. Minha professora era filha da rabugenta, e não sabia nem por onde começar a dar uma aula. E, assim, mais um ano se passou. Já na 3ª série, em outra cidade. Foi uma experiência assustadora, mas ao mesmo tempo gostosa. Era uma cidade bem maior do que as outras duas das quais eu já tinha morado. Não havia incentivo à leitura, era uma educação bem tradicional. A 4ª série também foi semelhante. Entrando na 5ª série, comecei novamente a ter um contato maior com os livros. Mas a importância da leitura se perdia entre greves, recuperações de aulas, era tudo “atropelado”. As práticas de leituras não eram direcionadas e nós íamos à biblioteca e retirávamos qualquer livro. Tenho a recordação de um livro que se intitulava O Caso da Borboleta Atíria , achei muito infantil, não gostei. E que eu me lembre foi só esta leitura na 5ª série.
Já na 6ª e 7ª séries a minha estimulação foi bem maior. Não lembro da ordem correta, mas lembro dos seguintes livros: O Menino do Dedo Verde, Um ônibus do Tamanho do Mundo, A Hora do Amor, O Pequeno Príncipe, e outros mais dos quais gostei muito de ler. A melhor recordação que tenho é da minha 8ª série, com a professora Ivoni ( acho que foi nesta época, mesmo sem saber, que me decidi fazer Letras). Muito rígida, mas ao mesmo tempo, brincalhona e amiga, trazia diversos tipos de leitura e de livros, desde poemas como Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes pelo qual sou apaixonada , até Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo. Além dos Livros como O último Tiro, este comprado na Feira do Livro em Porto Alegre. Ela tinha a coragem de nos levar de ônibus de linha comum, fora do horário de aula, para a Feira do Livro , na praça da Alfândega, em Porto alegre. Nesta época comecei a buscar outros tipos de literatura fora das bibliotecas escolares. Gostava de ler romances como os livros de Sidney Sheldon, Sabrina, entre outros. Ivoni era uma mulher admirável. Ainda bem que a tive como professora, pois devo parte do que sei e do que gosto como leitora a ela. E, hoje, tento ser um pouquinho do que ela foi para mim, para os meus alunos.
Um livro que marcou muito a minha adolescência foi Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva, pois relatava as peripécias de um jovem extremamente alucinado pela vida. A partir desta fase, já no antigo 2º Grau, comecei a ter contato com a Literatura Brasileira, tanto lições de escolas literárias como os livros. Li quase todos aqueles recomendados pelo vestibular: Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e mais... O interessante é que minha mãe os comprava. O professor pedia e ela fazia de tudo, mas conseguia dar um jeito de comprar, embora nossas condições financeiras não fossem das melhores. Hoje em dia se pedirmos para um aluno comprar um livro de literatura, nas escolas públicas, no outro dia a mãe vai até a escola, para dizer que ela não tem obrigação com isto, que a obrigação é da escola. OBS.: sempre estudei em escola pública.
Ao sair do 2º grau, decidi fazer vestibular para Farmácia, influenciada por um antigo namorado que fazia medicina, por sorte não passei. Então, resolvi trabalhar para ajudar a minha família , que até então, me sustentava. Passou-se um ano e uma idéia martelava na minha cabeça: fazer ou não fazer uma faculdade? Fui me inscrever no vestibular da Unisinos para Letras. Tive uma boa surpresa, pois passei. Chegando lá, deparei-me com disciplinas bem difíceis. No início era um monte de teorias da literatura, livros complexos, as aulas de latim, professores que apenas apontavam as leituras já supostamente feitas por nós. Um mundo bem mais complicado do que eu estava acostumada. Na verdade, eu esperava mais das aulas. Esperava que me dissessem como fazer as coisas e não era o que acontecia. Eu tinha apenas uma orientação e indicações de leituras sobre as teorias e autores que falavam sobre determinado assunto. Diferente da escola, eu é que tinha de ir atrás do conhecimento, nada vinha pronto. Um livro que ficou marcado é Videiras de Cristal, de Luis Antônio Assis Brasil, autor gaúcho e que fala sobre a colonização alemã aqui no Rio Grande do Sul. E como não poderia deixar de ser obra explorada na cadeira de Literatura Gaúcha.
Atualmente tenho de me desdobrar entre a escola, a casa, a filha, as aulas do Gestar, para conseguir ler um livro. Ainda assim, encontro um tempo para ler.

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